De quem é esse lixo?

          Por Aldo Damasceno, Ana Clara Teixeira de Castro, Francine Vilas Boas, Maysa Alves da Silva


           A maneira como acontece o descarte do lixo é um problema que tem se agravado e há muitas controvérsias a respeito de quem deve se responsabilizar por ele. Tal cuidado é dever público ou privado? Leis brasileiras, como a 12.305/2010, tentam solucionar esses problemas e tornar mais claras tais discussões, porém são de difícil aplicação, pois envolvem inúmeros fatores sociais (campanhas de incentivo e de educação populacional) e financeiros (verbas públicas). De acordo com Lei, a responsabilidade pelo lixo passa a ser compartilhada e envolve cidadãos, empresas e prefeituras, além das outras esferas de governo. Uma das determinações é que todo município terá que implantar um sistema de coleta seletiva, sendo que as cooperativas de catadores terão prioridade e serão dispensadas de licitação.
          Em Mariana, a coleta seletiva é realizada pelo Centro de Aproveitamento de Materiais Recicláveis (CAMAR) em parceria com a Prefeitura. Segundo o diretor da Secretaria Adjunta de Limpeza Urbana (SALU), Omar José Gomes, a coleta seletiva ainda é deficiente. Ele acredita que o problema acontece por falta de conscientização da população e que a prefeitura tem que fazer “um intercâmbio”: “Ela peca nesse aspecto, tem que informar melhor”. Além disso, o diretor ressalta o pequeno número de lixeiras e o vandalismo, que acaba por diminuir as poucas disponíveis.
               Omar Gomes define a responsabilidade da prefeitura no trato dos detritos como “total”, ou seja, a SALU cuida da limpeza de ruas e córregos, varrição, capina e coleta. Fica como dever do cidadão cuidar do resíduo gerado por ele, a separá-lo corretamente e colocá-lo na rua nos horários preestabelecidos: “A coleta é feita à noite, mas a população não coloca o lixo no horário certo. O certo seria até às 11 da noite”, afirma.
Lixo: o contraste de um patrimônio histórico. Foto: Maysa Alves

Realmente não importa mais?

          Com o passar dos anos, o aumento do volume de resíduos tem sido em larga escala. A necessidade de conscientização e investimento na coleta seletiva tem se tornado cada vez mais fundamental. Ajudar os coletores e artesãos que vivem desses materiais traz um impacto que vai além da responsabilidade social, alcançando a esfera ecológica e contribuindo com a sustentabilidade. De acordo com Dona Zizinha, vice-presidente do CAMAR, “ainda vem muita ‘porcaria’ (sic), móveis velhos e muita comida misturada. Muita gente coloca lixo comum no meio do que vem pra cá”. Para ela, além da conscientização, a população ainda precisa se informar a respeito dos materiais que são ou não recicláveis.
Bonecos gigantes da Toca do Zé Pereira
         A Toca do Zé Pereira, localizada no bairro Chácara, é a sede dos bonecos gigantes que desfilam pelas ruas em datas comemorativas. São caricaturas autorizadas, produzidas por Maria José Chaves Batista, presidenta da Associação pelo terceiro mandato. A tradição, de mais de 165 anos, atualmente é mantida por nove integrantes que produzem os bonecos com materiais recicláveis.
       Dona Maria revela que as caricaturas são feitas de taquara, papel machê, jornal, grude (feito de farinha de trigo ou polvilho) e arame recozido para poder fazer os esqueletos. “Fazíamos braços de piteira, mas ficou muito perigoso, por que os bonecos que rodavam na rua batiam nas pessoas e elas achavam ruim. Então de repente eu estava olhando umas garrafas pet e decidi reciclar, fazer os braços com elas. E a gente também usa papéis de computador que as pessoas não usam mais”, explica.  

Criações de Dona Lica
Foto: Francine Vilas Boas
          Outro exemplo é de Maria Perpétua das Dores, mais conhecida como Dona Lica, que tem como preferência a pintura, já frequentou quase 30 oficinas em artesanato e ministrou algumas enfocando o trabalho com materiais recicláveis. Durante 13 anos ela foi presidenta da Associação de Artesãos de Mariana. Em seu trabalho, Dona Lica utiliza materiais recicláveis – doados pelo CAMAR e pela sua vizinhança – como matéria prima para maioria de suas criações. Define seu trabalho como fonte de renda e terapia, dele podem nascer flores, castiçais, arranjos de papel, vasos de jornal, galinhas de pinha seca, enfeites de cabelo feitos de retalho, anjos com o corpo de carretel. 

 
Esse lixo é nosso
            Para que as engrenagens da limpeza urbana funcionem é necessário cooperação, tanto na relação prefeitura-morador, quanto morador-vizinhança. Com o cidadão fica a responsabilidade de descartar o lixo corretamente, procurando saber quais os horários de coleta e o que pode ser reaproveitado. Já a prefeitura, tem o dever de manter os serviços de limpeza urbana funcionando, além de – através de campanhas de incentivo e educação – fazer com que o cidadão se sinta motivado a contribuir com o desenvolvimento sustentável.

             Acompanhe também o Making of da matéria.


Edição final: Maysa Alves da Silva | Edição: Ana Clara Teixeira de Castro, Maysa Alves da Silva | Fotografia: Francine Vilas Boas Silva, Maysa Alves da Silva, Aldo Damasceno | Making-off: Aldo Damasceno.

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